quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Me ligue vai

Então ela disse:

- Sim, porque eles precisam de mim na medida da minha conversa. Sou uma "talking" puta e, ainda por cima, barata, porque não cobro, não recebo flores, não me mandam chocolates. Estou aqui, disponível para falar, para ouvir, para aconselhar, para orientar. Para qualquer coisa que queriam menos para o exercício do amor.Ah, pois, porque talking puta é outra dimensão, nada de coisas físicas, que seria?, as palavras vão e vêm sem ciclos orgásmicos. Nada de coisas múltiplas e suadas. Minto, há o suor de os ouvir, os homens da minha vida, a dizerem coisas, a sentirem-se grandes na medida exacta das palavras que empregam. A vitimizarem-se uma primeira vez e depois várias, já que não contestam o rótulo e explicam, explicam à exaustão o que pretendem. E o que pretendem? Algo grandioso e altruísta, porque na verdade são todos muito bonzinhos, não é? Precisam que eu faça de receptor de discursos e eu aqui estou para os abraçar nas suas hesitações e infantilidades.

Depois de ter dito tudo isto de seguida, o telemóvel tocou e ela atendeu. Esteve 40 minutos ao telefone. A fazer de talking puta. Mais uma vez. Quando desligou pensou que deveria apurar se é possível transformar o seu número de telefone num número de valor acrescentado, sempre eram 60 cêntimos por minuto que encaixava. Isso sim, seria um negócio.