Ir a um hospital não é um passeio agradável. É uma obrigação. Hoje de manhã, o hospital estava despido de gente. Gente doente tinha rumado à praia, por certo, tinha adiado a doença, tinha decidido ser saudável, comer legumes, beber muita água, fazer exercício físico. O mundo, na sala de espera vazia, pareceu-me um anúncio americano de beleza e músculo. Fiquei de fora. Quando o técnico me chamou para fazer a Tac estranhei a falta de janelas e fiz um comentário. O técnico encolheu os ombros e disse-me que era melhor assim
- Não vejo o que se passa lá fora.
E eu - cheia de imagens de pessoas saudáveis a beber sumos de frutas, a exibir os seus corpos esbeltos, sorridentes, felizes - concordei.
Fiquei quieta por uns instantes e depois voltei para casa.
No quarto tenho sempre as cortinas corridas. Estou em sintonia com o técnico da imagiologia. Ele é que não sabe.
Figueira da Foz, 5 de Março
Há 15 anos