O médico tinha um ar simpático, sabe? Foi até carinhoso. Gozou com a situação quando me debrucei na marquesa e fiquei com as calças pelo joelho. Eu ali sem me mexer com uma espada gigante, uma verdadeira excalibur, enfiada nas costas. Literalmente. E a rádio ao fundo
- M80, todos os êxitos dos anos 70, 80 e 90.
E o médico a querer saber se dói mais aqui - e vá de carregar com os polegares - ou talvez ali mais abaixo. Uma tortura. E depois a pergunta que não era uma pergunta
- Está a suar.
- Sim. Ou é isso ou digo palavrões. De dor.
Se eu fosse um desenho animado seria assim: a espada nas costas e eu correr da dor e os restos de mim a ficar pelo caminho em riscos de cor, preto e vermelho, amarelo e azul, e o médico a ser esmagado por um rochedo inofensivo.
Deitada na marquesa com um cocktail de analgésicos e de anti inflamatórios fiquei a pensar na vida.
Figueira da Foz, 5 de Março
Há 15 anos