sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Jorge Colombo


O Jorge coçava a barba que deixou crescer e alinhava as fotografias. Mote: Álvaro de Campos. Local: Casa Fernando Pessoa. O som destruído da banda sonora do Elvis não vingava o suficiente, alguém tinha uma aula de piano no piso de baixo. As meninas da Casa esfregavam com uma esfregona a cera do chão, a Inês deslizava com os sapatos de salto alto pelo chão. Havia aparas de papel e outras coisas espalhadas. O Francisco atendia o telemóvel sempre com aquele ar calmo de quem não se irá perturbar com nada, uma convicção só dele. Queimei a mão a tentar colocar o foco de luz para cima. O Jorge tinha um lenço dobrado em quatro, um lenço invulgarmente cavalheiresco de tecido suave. Faltavam três horas para a inauguração. Lisboa revisitada começou ontem. O fantasma de Fernando Pessoa, escapando aos sentidos extra do gato residente na Casa, passou por ali a espreitar e depois encolheu os ombros numa surpresa e deteve-se.
Foi um bom momento.