segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Crónica: o mito do eterno retorno

. Pois é, vou candidatar-me com grande sacrifício pessoal. Sim, sim, não haja dúvida que a noção de serviço público implica uma nobreza de outros tempos. Felizmente ando na política deste jovem, vi muito, sei muito. Nem sempre fui um personagem consensual, é bem verdade, mas os portugueses sabem que estou cá para o melhor e, sobretudo, para o pior.
Nunca tive oportunidade de demonstrar a minha visão para o país em tempos de vacas gordas. Reconheço que foi mais fácil com os primeiros dinheiros da união europeia, mas onde isso já vai? Eu tenho ideias concretas para tornar este país mais, mais... bom, para tornar o país mais. Até era um bom slogan, não concordam?
Conheço bem os dossiers, seja o que for que queiram perguntar, façam o favor, tenho uma palavra a dizer. Sei de urbanismo, de cultura, de habitação social, de economia e, acima de tudo, sei como ninguém navegar nos meandros da política. Não é para todos, como sabem. É difícil. Vejam o caso da Câmara Municipal de Lisboa. É uma máquina complexa, intrincada, quase odiosa, posso dizer. Mas alguém tem de assumir esta dor de cabeça, alguém tem de pensar na cidade.
O túnel do Marques de Pombal, que eu mandei fazer - convém sempre sublinhar - é um caso paradigmático e reflecte a minha visão. É verdade que nem tudo correu pelo melhor, há questões e dúvidas, opções mal tomadas, equipas duvidosas. Eu sou humano, sou falível. O que posso prometer é ser mais, mais... Ser mais também era um bom slogan, não acham?
Ainda sou novo, sou de cá, sou lisboeta e português e ainda um cidadão do mundo (e nada de dizer que estou a citar o Dr. Soares, tenham dó, uma frase tão boa é de todos, não é exclusivo dos socialistas), apesar de ter horror a viajar de avião. Fui deputado, deputado europeu, secretário de estado, primeiro ministro... Por acidente, é verdade, mas fui primeiro ministro! Um dia, quem sabe?, seguirei os passos de Cavaco Silva e terei então herdado em pleno o legado político de Sá Carneiro. Serei mais, muito mais do que os meus inimigos me vaticinaram; muito mais do que os amigos sonharam. Terei o meu lugar na História de Portugal e isso, meus senhores, só a vós devo, caros eleitores. Bem hajam.

(crónica publicada no Semanário Económico de 26 de Dezembro de 2008)