segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

a sopa

Lembrou-se que o marido não dispensava as cenouras.
As lágrimas cresceram nos olhos. Juntou os legumes e deixou-os cair na panela onde a água fervia. A casa estava demasiado vazia. Era grande agora que o marido morrera. Pensou que a solidão era isso: fazer uma panela de sopa só para uma pessoa.

O marido morrera há duas semanas e ela continuava a fazer a mesma quantidade de sopa. No fundo tivera uma boa vida. Foram felizes. Era pena que não tivessem tido filhos.
Nunca imaginara que pudesse ficar assim, sozinha.
O marido tinha entrado numa loja para comprar pilhas para o comando da televisão. Um homem com a cara protegida mostrara-lhe uma arma. Não sabia exactamente o que é que se passara. A mulher polícia tinha dito que tudo se resolveria, que iriam descobrir o assassino. Mencionara uma onda de assaltos e o problema da droga.

Nesse dia ficara viúva. Tinha 57 anos.

Olhou para o relógio, verificou a fervura da sopa. Ouviu a campainha da porta. Sentiu um sobressalto. Reviu o rosto do marido.
À porta estava um polícia com quem já falara. Ele olhou-a, sugou o cigarro e disse que estava tudo resolvido.

Ela sentiu o cheiro da sopa.

Nenhum comentário: