quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

carta parte II

Agora já posso escrever outra vez. Há o silêncio para isso. Queres que te conte o resto?
As dores não têm uma explicação exacta, são dores. Como é que se descreve a dor? Contínua, aguda, em pontada, hesitantes? Não te sei dizer. Dor para mim é dor. A descrição reduz-se ao seu enunciado. De sexta feira até hoje tenho dormido mal, muito mal. Sem posição, com sonhos.
Imagina que sonho frases inteiras do novo livro, do meu novo personagem, o meu Eduardo. Um absurdo total. Acordo, quero escrever e são três da manhã e não posso mexer-me. Cada vez que preciso de ir à casa de banho o meu marido levanta-se, sempre gentil, sempre tranquilo, segura-me, diz-me para ter calma, para ir devagar. Ele sente quem eu sou. É a melhor descrição que posso fazer.
Despiu-me com todo o cuidado quando viemos para casa. Senti-me uma criança. Uma velha. Foi estranho.

Agora estou melhor. Muito melhor. A dor continua e tenho dificuldade em mexer o corpo, o tal corpo. Amanhã vou ao médico tirar pontos. É na costura da cesariana. Outra abertura para tirar um extra que o corpo não queria. Nada de especial. Nada de importante. Apenas um desvio, um ajuste. Com dor. Por vezes pergunto-me se ainda serei eu. Hoje escrevo pela primeira vez. Para ti.
Um beijo

Um comentário:

Patrícia Fonseca disse...

Ainda bem que decidi inventar um blog. O meu poderia acabar já amanhã. Acho que já cumpriu a sua missão: fazer nascer o teu.
Besos de Madrid