O homem tinha as mãos na cabeça, estava recolhido, como se fosse uma tartaruga. Fazia lembrar uma tartaruga. O restaurante não tinha quase ninguém. À frente do homem estava um prato de carne com batatas fritas. A comida estava fria. O homem agarrava a cabeça com as mãos e o seu silêncio era angustiante. O empregado rondava por ali a ver se o desastre acontecia. Então o homem disse:
-Pára com isso, pára com isso.
- Desculpe? - pediu o empregado muito solícito.
- Estava a falar comigo. Pode trazer o ketchup?
- Com certeza.
- Obrigado.
Era véspera de feriado e o homem comia agora carne fria, tentava compôr o seu boneco, a sua imagem: endireitava as costas, tossia ligeiramente para clarificar uma voz que não se ouviu, passava a mão pelo cabelo.
Em segundos deixou de estar derrotado e comeu com avidez.
Fosse o que fosse tinha parado.
Figueira da Foz, 5 de Março
Há 15 anos
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