Livros franceses, ingleses, alemães, livros para crianças, livros sobre sexo, dicionário e poesia. Nos corredores da editora os livros crescem e eu ando de gatas a ver o que pesco, como alguém com fome nos caixotes da cidade.
Não me lembro de não os ter: os livros. Formatos diferentes, capas sóbrias, coloridas. Tudo se despe nos livros. O nosso melhor, a nossa maldade. Ter um livro é viajar, dizia o meu tio avô. E agora, deslumbrada pelo corredor recheado de livros sinto tanta falta desse tio guardião, da sua gentileza teimosa, as mãos grandes a guardar um livro para mais tarde, a guardar a madrugada, os meus sonhos de menina. Ele tinha uma unha partida que fazia uma ruga e eu tinha, então, o fascínio extremo por aquele dedo que passava as folhas dos livros enquanto me lia em voz alta ou, em silêncio, para si, viajava naquela história. Mais uma história.
Figueira da Foz, 5 de Março
Há 15 anos
Nenhum comentário:
Postar um comentário