terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

o médico

O médico era um homem do mundo, culto, de bom gosto, melómano. Tudo isto se tornava evidente no primeiro contacto, a mão dele a deslocar-se na direcção do outro. Sorria ligeiramente. Um sorriso reconfortante. Tudo no médico gritava: confie em mim; deixe-me ajudá-lo. Esta sensação durou meio minuto. Ou menos. Chovia muito lá fora e Lisboa estava de um cinzento perturbador. Ela disse:

- Não chovia assim há vinte anos.

O médico replicou:

- Pelo menos... há vinte anos.

Foi a primeira consulta.

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