domingo, 22 de fevereiro de 2009

Crónica: Um homem do Norte

Aqui só entre nós, off the record como vocês dizem, a Manuela tem mesmo de se demitir e ir para casa tomar conta dos netos. Tem mais do que um neto, não tem? Não sei nada da vida dela. Nem quero. Só de a ver nos jornais me assusta. Julguei que era outro tipo de mulher e que, bem vistas as coisas, onde eu fui derrotado, ela sairia vencedora. Ela tão pragmática, dura, amiga de Cavaco Silva, enfim, com os chavões economicistas e, claro, de Lisboa ou dos arredores. Sim, sim, que eu não vinguei no PSD pela simples razão de ser do Norte. Isto de não ser de Lisboa tem muito que se lhe diga. O PSD é um partido de betinhos, fundado em Lisboa, com sede na Lapa, caramba.
Eu deveria ter entendido logo, mas o que querem? Fui ingénuo e acreditei. Atirei-me de um só fôlego e fiz o que consegui. Não fiz mais, é certo. Fiz o que consegui e já foi muito. Divirto-me muito a ver como a Manuela adoptou o nosso Pedro que se vai candidatar à Câmara Municipal de Lisboa. Fico mais feliz ainda com o facto da antiga Ministra das Finanças não ter conversa que chegue para o Primeiro Ministro. É que o Sócrates, está a ver, enquanto estiver calado, está muito bem e ele quer lá conversar com a Manuela. Conversar sobre o quê?
O PSD bateu no fundo. Numa sondagem recente o partido teve o pior e mais reles índice de popularidade dos últimos 15 anos. Antigamente, garanto-lhe, era um partido que era um trampolim com características quase olímpicas. Era quase uma coisa mística: uma pessoa filiava-se e depois era ver como tudo ascendia. Falo por mim. Agora? Agora o partido é como o Martim Moniz: temos de viver com ele, mas nunca será um sonho concretizado. Estou a usa o Martim Moniz como metáfora e, já se sabe, serei acusado de tendencioso, egoísta e nortenho ferrenho. Longe de mim nomear um espaço aqui no Norte. As metáforas só ficam bem a Lisboa.
Eu cá até gosto de ser egoísta. Deixei o partido à Manuela, devolvi o Pedro ao país e agora divirto-me a criticar e a pedir cabeças. Não, não quero ser presidente dos restos do PSD, Deus me livre, mas é muito bom invocar a liberdade de expressão e desancar nos betinhos. Esperto é o Sócrates que se mantém caladinho a ver a banda passar. O Martim Moniz é tão longe de São Bento que nem faz mossa.

(Crónica publicada no Semanário Económico a 19 de Fevereiro de 2009)