domingo, 8 de fevereiro de 2009

Caladinho que nem um rato

Está tudo maluco. Tudo. O único que está sóbrio aqui sou eu. Esta é a reunião de pais mais disparatada a que assisti. Então, vocês ainda não compreenderam que os miúdos têm o primeiro contacto com o sexo através da internet? Ainda não fizeram nada, mas já viram tudo. Acham mesmo que controlam os vossos filhos e o tempo que estão a navegar? São de uma ingenuidade que faz doer, ficam a saber. Os miúdos sabem tudo e não têm pudor em partilhar uns com os outros. Em que mundo é que vivem? Se vocês enquanto pais querem viver na ilusão de que os filhos são vossos e não são do mundo, pois façam o favor, mas não se queixem mais tarde. Sobretudo não se queixem a mim. Sou apenas o professor e nem sei por quanto tempo. Tempo é uma coisa que vocês não têm, pois não? Chegam a casa às sete, os miúdos estiveram no atelier de tempos livros, com a empregada, na melhor das hipóteses com os avós. Eles já viram lésbicas e esquemas de mentiras nas séries de televisão ao fim da tarde, já viram uma dançarina de um clube de strip a ser estrangulada numa série americana e andaram no msn a dizer mentiras uns aos outros. Mas como já têm os trabalhos feitos, se os tiverem, e o banho tomado que diferença faz se não houve quem os filtrasse dos males do mundo? Não que seja a favor da censura, não sou. Os miúdos não podem viver em cápsulas protectoras, isentos da maldade que para aí há. O que eles precisam é que os pais sejam GPS eficazes e modernos, que lhes mostrem caminhos principais e secundários, mas que estejam presentes. E estar presente não é estar ao telemóvel, a ver o telejornal ou telenovela, a jogar playstation ou na net. Podia dizer-vos tudo e ficavam siderados, estrangeiros dos vossos filhos, amputados desse sonho cor-de-rosa que criaram nos filmes da vossa infância. Os vossos filhos não viram o feiticeiro de Oz, caramba. Acordem. Os miúdos têm 13 anos e já sabem o que é um orgasmo múltiplo. Não acreditam? Pois não, por isso é que eu estou aqui a assistir a tudo com esta calma e caladinho que nem um rato.

(Crónica publicada no semanário económico a 7 de Fevereiro de 2009)