Havia o sossego da casa, o sol a bater levemente na cortina, um certo sentido de paz e de silêncio bondoso para terminar a semana.
Ficámos assim duas horas, depois fomos ao lanche de aniversário do Gugas. Os domingos têm esse apetite de não se fazer, de não dizer.
Na sexta feira rumámos à Figueira da Foz para a primeira sessão pública da Academia Pedro Hispano. Vitorino e Janita cantaram e desafiaram os mais audazes a outras comidas depois das duas da manhã, num restaurante chamado Búzio que, consta, tem o melhor farnel daquelas paragens. O mar estava ali a vigiar-nos. A Inês riu-se e contou histórias. O Zé Francisco passeava a cigarrilha satisfeito. Lobo Antunes sorriu com aquela tristeza que só é dele e felicitou os músicos. O meu marido aventurou-se a um charuto.
No sábado lemos os jornais, andámos pela casa, embrulhámos prendas de natal. Na feira de arte em Lisboa encontrámos um fotógrafo amigo e um casal de excêntricos por serem artistas. Não havia lugar ao pensamento, fomos ver o 007 sem martinis batidos, sem Bond, James Bond, sem humor e sem invenções. Ao fim dos três primeiros minutos, estava pregada à cadeira e super cansada.
Agora, no fim do domingo, a máquina a lavar a roupa, o benfica a amanhar-se com o académica, o sebastião a rever o francês e o micas a tagarelar, falta apenas eliminar o que segunda feira trará sem piedade.
Figueira da Foz, 5 de Março
Há 15 anos