segunda-feira, 14 de julho de 2008

O que veneza tem


No Florian os músicos russos atacam a pauta com o pouco de Verdi que os turistas vão conhecer e trautear. O chá com scones chega na bandeja de prata. Mãe e filha tentam não se olhar enquanto comem um doce qualquer, difícil de distinguir. Faz calor. Muito calor. Mais tarde irá cair granizo e chuva de uma forma inesperada, quase profética. Sinto um certo medo. Oiço a trovoada que aqui parece sempre maior e pior por não estar disfarçada pelo ruído típico das cidades onde circulam carros. Os gondoleiros protegem com capas azuis as embarcações lacadas a preto. No Rialto os japoneses confundem-se com os americanos e os brasileiros deixam-se levar pelos senegaleses que vendem imitações Louis Vuitton, Gucci, Prada. As lojas anunciam 50 por cento de desconto. As lojas de máscaras permanecem inalteráveis: os mesmos preços o ano inteiro. Máscaras e chapéus, bengalas e luvas bordadas. Há ainda pinóquios, livros em branco com encadernações lindas, papéis de embrulho com pautas de Vivaldi ou escritos de Casanova, almas de uma outra Veneza. Há os Tintoretto e os Tiepolos, os Bellinis e ainda e sempre a arquitectura inesperada das ruas estreitas que se enchem com a água da chuva e depois namoram o sol com o mesmo encanto. O que tem Veneza?
Pela tua mão tem quase tudo.