quinta-feira, 17 de julho de 2008

da enorme maldade de alguém

Há um conto de Antonio Tabucchi de que gosto especialmente. Chama-se Enquanto o Inverno não chega e está no livro Pequenos Equívocos sem Importância, título que resume com brilhantismo o verdeiro génio de Tabucchi. Sou militante confessa. Hoje lembrei-me deste conto, da forma triste e agastada como uma viúva de uma grande figura da cultura se debate, no dia do funeral, com a enormidade da herança que resta: os inéditos. Ocorreu-me este conto, hoje pelas cinco da tarde.
Há em quem não seja nada, não tenha nada, não signifique nada além de um equívoco e queira sempre tomar o lugar do outro, por pura maldade, por ser capaz desse despudor. Eu gosto desta palavra: despudor. Alguém poderia ter levado as palavras, ter rasgado a maldade noutros tempos. Mas ela permanece, fiel à rotação do planeta, imbatível, matemática. Não sendo uma apreciadora da lógica da matemática ou da teoria do determinismo, resguardo-me na literatura. Por que as pessoas na vida real são capazes de uma enorme maldade e, num repente, as pessoas de quem gosto podem não conseguir sobreviver a isso.
Há dias assim.